sábado, 6 de julho de 2019

  Relatos de uma garota autista por Sue Nogueira
" Olá, meu nome eh Suellen, tenho 34 anos e há pouco fui diagnosticada com autismo leve, a antiga Síndrome de Asperger."
Nesse breve relato, gostaria de pontuar algumas poucas características, dentre tantas, que me causaram por toda a vida uma sensação de estranheza e que posteriormente culminou no diagnostico.

Minha avo, que foi responsável por minha criação, sempre contou a historinha de que quando eu era bebe ela achava que eu apresentava algum problema mental, pois eu ficava por longos períodos olhando para uma bolinha de pelo da minha coberta e cantando, ou seja, fazendo um barulhinho prolongado e ritmado.
Também faz parte do relato de minha avo, o fato de que desde a introdução alimentar, eu apresentava repulsa pelo alimento e pela sujeira que o alimento causava. Lembro-me inclusive do pavor, ainda muito pequena, do horário do almoço. Eu me escondia para não ter que comer. Posteriormente, já maiorzinha, me lembro de pensar sobre o porque de o ser humano ter que alimentar, já que era a pior coisa na minha opinião ate então.
Mal sabia eu que, logo logo, eu teria que ir para a escola e que novos desafios estariam por vir.
Quando comecei a estudar aos 5 anos de idade algumas coisas começaram a mudar. Uma nova rotina estava sendo instalada, o que incluía acordar em certo horário, tomar meu leite, escovar os dentes, vestir o uniforme, dar tchau para minha chupeta e .... pera... dar bye bye para minha chupeta? Esse foi o primeiro grande desafio que enfrentei. Como ficar sem aquilo que me acalma quando estou agitada? Como me despedir da ate então inseparável e única companhia? Confesso que não foi fácil, mas com o argumento de que eu ja era mocinha e que se eu levasse a chupeta para a escola as outras crianças ririam de mim, concordei em deixa-la, porque ai mexeu com mais um grande pavor que já se apresentava nessa primeira infância: a de ser notada e de maneira negativas er vista ja era um terror, e ser vista e ainda por pessoas que ririam de mim, era inconcebível. E foi assim que com lagrimas nos olhos me despedi do meu “bico”  com um ate logo. 

A rotina foi se estabelecendo e somada a ela, por anos a fio, estava a necessidade de após a aulas, eu ir para o meu balancinho no quintal e me balançar...balançar...balançar...ate que todo o cansaço fosse embora. E vale uma ressalva aqui... Eu me cansava..e cansava muito. O que me fez por inúmeras vezes ouvir a seguinte frase: Nossa, parece que ela ja nasceu cansada, onde chega se encosta. E em minha defesa me avo dizia, mas ela estudou muito tadinha, deixa a menina descansar. Enquanto outras vozes vinham e diziam: que nada, ela ‘e muito mimada e preguiçosa, isso sim. Ali começava um estigma que me esforcei muito para quebrar e vencer. 

Alias, lutar para vencer minha limitações e ser uma pessoa  melhor, se tornou digamos, meu hiperfoco. Ate hoje, o que mais ocupa minha mente eh o pensar no Eu. No porque de ser como sou e o que fazer para mudar e melhorar. E isso tem dois lados, como tudo na vida. Um deles ‘e o da culpa e da angustia, que insiste em estar presente todos os dias, desde minha primeira memoria. E o outro lado ‘e o da resiliência e superação. Porque de resiliência e superação...ah..disso eu entendo. Mas fica para o relato de um outro dia. Sue- Psicanalista, Mãe,34 anos
Estados Unidos



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